quinta-feira, outubro 27, 2005

Doadores de medula óssea correm o risco de confusão de identidade

Fonte: New Scientist News

Soa como um caso fácil de ser resolvido: uma combinação perfeita de DNA é feito entre o semen proveniente de um sério estupro e o exemplar de sangue de um criminoso conhecido. Contudo em um caso recente do Alaska, o criminoso em questão estava preso quando o estupro ocorreu.E os cientistas forenses já haviam comparado o exemplar com o perfil de DNA de uma outra pessoa que era o principal suspeito.Somente após um trabalho de investigação que o mistério foi solucionado: o homem em prisão tinha recebido medula óssea do suspeito alguns anos atrás.

Essa semana, num encontro da Sociedade Americana de Genética Humana de Salt Lake City, Utah, Abirami Chidambaram do Laboratório de Medicina Forense do Estado do Alaska em Anchorage descreveu o caso para exemplificar o perigo de avaliações falsas da justiça.Dado a retribuição que pode ser dada a outros estupradores por outros companheiros de cadeia, as conseqüencias podem ser graves."se você envolve a pessoa errada, ela pode ser morta na prisão," diz Chidambaram.

Quando Chidambaram descobriu a combinação fora do comum, ela inicialmente pensou que teria havido uma mistura de amostras.Mas não havia erro.E além disso, o homem em prisão e o suspeito tinham o mesmo sobrenome.Pelo fato dos registros médicos serem confidenciais, um investigador teve que fazer novos inquéritos entre os familiares e amigos dos dois homens.Revelou-se que não somente o condenado e o suspeito eram irmãos como o preso havia recebido um transplante de medula do seu irmão.A partir desse resultado concluiu-se que seu sangue havia sido apropriado por células que continham o perfil de DNA do seu irmão.

É um caso da vida imitando a arte: em novembro de 2004, o canal NBC de televisão dos EUA exibiu um episódio de "Law and Order: Special victims unit" no qual um estuprador quase se viu liberto dos seus crimes por causa de um caso semelhante de mistura de medula óssea.

As probabilidades de casos como esse virem a tona são muito baixas.Mas conforme os banco de dados forenses de DNA se expandem, e mais pessoas são submetidas a transplantes de medula, o risco de julgamento falso pela justiça irão aumentar."Os investigadores devem saber sobre isso," diz David Lazer da Universidade de Harvard, que estuda os problemas políticos que envolvem testes forenses de DNA.

Até recentemente, os transplantes de medula óssea envolvia a destruição da medula óssea original do paciente.Em tais casos seu sangue irá conter o perfil de DNA somente do doador.Mas alguns procedimentos em anos recentes, tais como terapias para tratar a anemia falciforme, retém uma parte da medula original do paciente, nesse caso o sangue contém um perfil de DNA misturado.

Perfis misturados podem também ocorrer quando o DNA é coletado de raspagens da parte interna das bochechas ao invés de amostras de sangue.Essa prática já é padrão no Reino Unido e está crescentemente sendo usada pela policia dos Estados Unidos.

As células do rosto de um recebedor de medula conterá principalmente o seu próprio DNA, mas pode se tornar contaminada pelo DNA do doador com o passar do tempo.Dessa maneira a polícia teria de analisar amostras tanto do sangue quanto da parte interna das faces para se assegurar de que não houve transplantes.

Lazer acredita que seria dispendiosa a comparação rotineira de ambos os tipos de amostras para confirmar se um suspeito haveria sido submetido a transplante de medula, e Helen Ng, porta-voz do Programa Nacional de Doadores de Medula dos Estados Unidos, com sede em Minneapolis, enfatiza que isso deveria ocorrer somente em casos raros."Espero que isso não venha a atrapalhar as pessoas a doarem a pessoas que deles necessitam," diz ela.

Mas Chidambaram argumenta que doadores em potencial de medula óssea devem ser informados do pequeno risco de que o seu perfil de DNA apareça em um banco de dados criminal se o recebedor mais tarde cometer um delito.

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