terça-feira, outubro 11, 2005

Danos cerebrais da AIDS também em pacientes que tomam coquetel

Fonte: EurekAlert!

A AIDS inflige padrões específicos de danos cerebrais, é o que revela um estudo de imagens de ressonânica magnética da Universidade da Califórnia/Pittsburgh

Drogas Anti-retrovirais não conseguem parar os danos...

Um novo estudo com imagens de ressonância pela primeira vez mostra um padrão seletivo de destruição ocasionado pela AIDS em regiões do cérebro que controlam funções motoras, de linguagem e sensoriais. Escaneamentos tridimensionais de alta resolução criados a partir de imagens de ressonância magnética (MRI) ilustram claramente os danos.

Resto da Postagem

Publicado na rede em 10 de outubro pelo Proceedings of the National Academy of Sciences (Procedimentos da Academia Nacional de Ciências), a pesquisa oferece uma nova maneira de medir o impacto da AIDS no cérebro vivo, e revela que o cérebro ainda é vulnerável à infecção mesmo em pacientes que estão recebendo Terapia Antiretroviral Altamente Ativa (HAART, ou como se conhece popularmente aqui no Brasil, a terapia com o coquetel).

"Duas grandes surpresas apareceram desse estudo," explicou Paul Thompson, Ph.D., autor principal do artigo e professor associado de neurologia na Escola de Medicina David Geffen na UCLA. "Primeiramente, que a AIDS é seletiva na maneira com que ataca o cérebro. Em segundo lugar, parece que a terapia de drogas não diminui o desenvolvimento dos danos. O cérebro é como se fosse um santuário para o HIV e onde a maior parte das drogas não podem seguir."

A pesquisa de Thompson utilizou uma nova técnica de mapeamento 3D do cérebro desenvolvida na UCLA com a finalidade de analisar as MRIs de 26 pessoas diagnosticadas com AIDS, e então comparados a escaneamentos de 14 pessoas HIV-negativas. Os escaneamentos mediram a espessura da massa cinzenta em várias regiões do córtex cerebral.

A Universidade de Pittsburgh diagnosticou e escaneou os pacientes com AIDS; todos 26 indivíduos teriam perdido pelo menos metade das células T, as células imunológicas alvo do HIV. Nenhum com relato de demência relacionando a AIDS, e 13 estavam usando o coquetel (HAART).

As diferenças gritantes entre os escaneamentos dos cérebros dos pacientes com AIDS e os dos índivíduos de controle foram facilmente observados nas imagens 3D. Áreas com perda de tecido tinham brilhos vermelho e amarelo, enquanto que as regiões intactas tinham um brilho azul e verde.

Os pesquisadores ficaram surpresos ao descobrir que a AIDS consistentemente avariava os centros motores, de linguagem e julgamento do cérebro, mas deixavam outras áreas intactas. Padrões específicos de danos dos tecidos diretamente correlacionados com sintomas físicos e mentais dos pacientes, incluindo coordenação motora comprometida e reflexos lentos.

"Os escaneamentos dos cérebros realmente pegam a AIDS com a boca na botija, o que permite que vejamos precisamente onde o dano está," observa Thompson. "Pela primeira vez, podemos entender porque as habilidades motoras deterioram com a AIDS; porque o vírus ataca os centros motores do topo do cérebro."

"Observamos até 15% de perda do tecido cerebral que regulam habilidades motoras como movimento e coordenação," conclui Thompson. "Isso ajuda a explicar os reflexos lentos, distúrbios do equilíbrio e maneira de andar que quase sempre afetam as pessoas com AIDS tardia."

A equipe da UCLA também relaciona a diminuição da espessura do centro do córtex da linguagem e razão à diminuição das células T no sistema imunológico. A descoberta pode esclarecer sobre os motivos pelos quais a AIDS é quase sempre acompanhada por pequena perda de vocabulário, julgamento de problemas e dificuldades de planejamento. Conforme a doença avança, esses sintomas podem piorar e chegar a perda de memória e demência similares à doença de Alzheimer.

"Perda de tecido segue a perda de células T, o que significa que as pessoas com função imune deficiente também mostram danos cerebrais severos," explicou Thompson. "Isso foi como uma revelação. Costumávamos considerar esses fenômenos separadamente, porque o HIV prejudica o cérebro e o sistema imunológico de maneiras diferentes. Agora vemos que eles estão intrinsicamente unidos."

"Esta é uma descoberta excitante, não somente porque podemos agora ver os efeitos do HIV/AIDS no córtex, mas também porque isso reforça a importância de usar mensurações sofisticadas de mapeamento neurológico como indicadores biológicos dos efeitos do vírus no cérebro," disse James Becher, Ph.D., professor de psiquiatria, neurologia e psicologia da Universidade de Pittsburgh. "Técnicas como essa se comprovam úteis na avaliação dos efeitos dos medicamentos contra o HIV no cérebro."

Os pesquisadores ficaram mais estarrecidos ao verem nenhuma diferença na perda de tecido entre os pacientes sob o tratamento com coquetéis e aqueles que não estavam.

"Esse foi o aspecto mais aterrador das nossas descobertas," disse Thompson. "Mesmo que as drogas antiretrovirais resgatem o sistema imune, a AIDS ainda acomete silenciosamente o cérebro. Uma barreira sangüínea protetora previne que as drogas entrem no cérebro, transformando-o em um reservatório onde o HIV pode se multiplicar e atacar as células, sem barreiras."

Os cientistas consideram o mapeamento cerebral um método útil para o monitorameto da AIDS e para a avaliação dos efeitos de novas drogas na progressão da doença. A técnica pode ser aplicada de uma maneira poderosa para estimar a resposta dos pacientes à terapia, mesmo antes do começo da demência ou infecções oportunistas.

"O mapeamento cerebral pode ajudar aos físicos monitorarem pacientes com detalhes mais apurados do que o que podem obter por meio da contagem de células T," disse Thompson. "Os mapeamentos podem também testar a capacidade de novas drogas de penetrar o cérebro durante os exames clínicos."

Uma dentre 100 pessoas entre 15 e 49 anos está infectada pelo HIV, a quarta causa de mortes no mundo todo. Em 2004, 40 milhões de pessoas estavam vivendo com a doença. Quarenta por cento dos pacientes de AIDS sofrem de sintomas neurológicos progressivos , que tipicamente levam à morte.

Os fundos para o estudo foram doados pelo National Institute of Aging, National Institute of Biomedical Imaging and Bioengineering , e pelo National Center for Research Resources (EUA). Entre os co-autores: Rebecca Dutton, Kiralee Hayashi e Arthur Toga, Ph.D., e o Dr. Oscar Lopes e o Dr. Howard Aizenstein da Universidade de Pittsburgh.

Universidade da Califórnica - Los Angeles (EUA)

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